
a informção verdadeira na hora certa
E outros silêncios não gritaram!
De Cruz Salazar
Escrevo nesta noite, e com certeza palavras adormecidas neste longínquo percurso até um novo dia.
Faço votos que as minhas próximas noites sejam diferentes: que durma antes do cansaço exigir; que não escreva antes de dormir; que não olhe para os cantos das paredes e achar que elas estão prestes a desabar; que não me lembre das mulheres que se intrigam no meu peito na penumbra da distância; que não me lembre dos erros cometidos durante o dia e que não tenha nenhum remorso em silêncio.
A minha voz não fala, e as palavras não soam aos meus ouvidos.
O barrulhar da paisagem e da natureza se parece fantasmagórico aos meus ouvidos e o medo se instala no além do meu profundo.
As próximas noites, espero que não sejam tão distantes desta que hoje a vida não me dá outra opção, se não passa-la escrevendo palavras mudas que vem duma alma perdida, entristecida e fingida de vivente entre os mortos da sobrevivência desumana.
Mas antes, quero abdicar-me de tudo.
Tudo o que lembra-me de mim mesmo; tudo que resta na tumba que se coinstitui ao meu redor; tudo que de mim depende para florir e instalar-se no cosmos.
Quero que tudo isso encontre a paz referida e eterno descanso, seja onde for.
Mas para tal é preciso que me distancie, o mais distante que for possível estar será melhor para mim mesmo, nesta desgraça que Deus abençoa.
Vida selvagem em que todos estão contra todos! Correrias de enlouquecer; quotidianos esquecíveis e odiáveis entre os homens e cenários padrinhos, mas cheios de diferença nas nossas mentes.
Porra...não queria ser homem.
Não queria ser homem nem sobrevivente destas terras.
Queria mesmo é ser qualquer coisa, que não seja mulher, nem humano.
Mas também, não perdoara-me se fosse animal, nem a mim, nem aos que seriam os meus pais.
Culparia a todos e a ninguém, se eu fosse deste mundo.
Amaldiçoaria, qualquer um, se por acaso eu fosse do céu.
Encheria a todos de pecados e ninguém iria ao paraíso, que estaria apenas sob meu domínio.
Se eu pudesse, nem o nada seria. Nem defunto nem morto e nem sobrevivente, muito menos vivente.
Olho para todos e não vejo ninguém!
Grito e chamo, em silêncio, e todos ouvem-me, mas ninguém responde-me.
Estou num gira bola, em que a tal bola sou eu.
As vezes, acho que estou sozinho no mundo, mas sozinho mesmo, está a minha voz que grita no silêncio.
Não entendem. Não é?
Não tem problema, nunca é tarde para entender estas palavras, acham que a vida é longa?
Pronto, e mais não posso dizer, cinto dor nas costas, tenho que tomar-me nesta noite que deixa-me na dúvida sobre o possível dia de amanhã.
Em todo caso, já sabem e viram...andam por aqui grandes amigos, que na verdade, são observadores da miséria e da morte!